Uma história que não incluí no Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes é o relato de um exército quinhentista português, liderado por um enigmático general chamado Baruiga (às ordens de D. Manuel I), que, em 1513, foi derrotado pelo canato turco da Crimeia quando os muçulmanos lhe atiraram colmeias cheias de abelhas do alto das muralhas. Não incluí esta história no livro, porque ela é falsa, de certeza (foi difundida pelo título L'Apiculture à Travers les Âges [A Apicultura Através dos Tempos], de Lucien Adam, publicado em 1985), embora eu adorasse que fosse verdadeira.
No entanto, é provável que, durante as suas múltiplas campanhas, os exércitos portugueses tivessem sido recebidos pelos nativos com bombas de barro ou de cerâmica, cheias de abelhas, porque essas armas eram muitíssimo comuns: tanto que, na verdade, a palavra bomba, assim como bombarda (canhão), tem como étimo a palavra grega bómbos, que significa zumbido das abelhas. Os mais sofisticados projécteis primitivos usados pelos nossos antepassados, desde o paleolítico, foram colmeias e toscos invólucros de terra, barro e osso recheados de abelhas, vespas, formigas e até escorpiões. Com efeito, alguns dos primeiros relatos conhecidos sobre animais são descrições de como é possível utilizá-los como armas de guerra - como pode ler-se, por exemplo, no tratado Como Sobreviver Durante um Cerco, de Eneias, o Táctico, escrito no século IV a. C., e que aconselha os cidadãos cercados a soltarem abelhas nos túneis cavados pelos inimigos.
Foram, provavelmente, estas descrições quase marginais que inspiraram a escrita dos primeiros bestiários.
A quarta via do Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes é o bestiário.
É possível que o primeiro bestiário seja o tratado anónimo, escrito em grego e datado do século II, intitulado Physiologus (O Naturalista), que consiste numa enciclopédia da vida animal, mas em que as espécies - tanto as reais, quanto as mitológicas - não são descritas de um ponto de vista científico, como em Naturalis Historia (História Natural), de Plínio, o Velho, escrito no século anterior, mas de um ponto de vista moral: o estilo distintivo dos verdadeiros bestiários; como os medievais, nos quais abunda o anedotário e a moralidade característica das fábulas.
No Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes, o bestiário é uma lente que observa a história, a ciência e o oculto (as restantes três vias) à luz da nossa ligação ao mundo natural, e aos mitos a ele associados, cifrando-se como um molde no qual todas as vias coalescem e a mensagem do livro ganha forma.
Imagens: um cavaleiro caça um unicórnio, numa iluminura do Physiologus de Berna, compêndio composto na cidade setentrional francesa de Reims, no século IX, a partir de outras cópias do Physiologus original; três cachalotes varados na praia, numa gravura do artista holandês Jan Wierix, datada de 1577, e rematada num registo que evoca a célebre gravura do rinoceronte da autoria do artista alemão Albrecht Dürer (realizada sessenta e dois anos antes), e que se apresenta como um desenho de transição entre o feitio fabuloso dos bestiários medievais e a rigorosa ilustração científica contemporânea.
No entanto, é provável que, durante as suas múltiplas campanhas, os exércitos portugueses tivessem sido recebidos pelos nativos com bombas de barro ou de cerâmica, cheias de abelhas, porque essas armas eram muitíssimo comuns: tanto que, na verdade, a palavra bomba, assim como bombarda (canhão), tem como étimo a palavra grega bómbos, que significa zumbido das abelhas. Os mais sofisticados projécteis primitivos usados pelos nossos antepassados, desde o paleolítico, foram colmeias e toscos invólucros de terra, barro e osso recheados de abelhas, vespas, formigas e até escorpiões. Com efeito, alguns dos primeiros relatos conhecidos sobre animais são descrições de como é possível utilizá-los como armas de guerra - como pode ler-se, por exemplo, no tratado Como Sobreviver Durante um Cerco, de Eneias, o Táctico, escrito no século IV a. C., e que aconselha os cidadãos cercados a soltarem abelhas nos túneis cavados pelos inimigos.
Foram, provavelmente, estas descrições quase marginais que inspiraram a escrita dos primeiros bestiários.
A quarta via do Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes é o bestiário.
É possível que o primeiro bestiário seja o tratado anónimo, escrito em grego e datado do século II, intitulado Physiologus (O Naturalista), que consiste numa enciclopédia da vida animal, mas em que as espécies - tanto as reais, quanto as mitológicas - não são descritas de um ponto de vista científico, como em Naturalis Historia (História Natural), de Plínio, o Velho, escrito no século anterior, mas de um ponto de vista moral: o estilo distintivo dos verdadeiros bestiários; como os medievais, nos quais abunda o anedotário e a moralidade característica das fábulas.
No Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes, o bestiário é uma lente que observa a história, a ciência e o oculto (as restantes três vias) à luz da nossa ligação ao mundo natural, e aos mitos a ele associados, cifrando-se como um molde no qual todas as vias coalescem e a mensagem do livro ganha forma.
Imagens: um cavaleiro caça um unicórnio, numa iluminura do Physiologus de Berna, compêndio composto na cidade setentrional francesa de Reims, no século IX, a partir de outras cópias do Physiologus original; três cachalotes varados na praia, numa gravura do artista holandês Jan Wierix, datada de 1577, e rematada num registo que evoca a célebre gravura do rinoceronte da autoria do artista alemão Albrecht Dürer (realizada sessenta e dois anos antes), e que se apresenta como um desenho de transição entre o feitio fabuloso dos bestiários medievais e a rigorosa ilustração científica contemporânea.