segunda-feira, 5 de março de 2012

Oculto: a terceira via


O oculto é a terceira via do Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes.

A palavra oculto foi usada no domínio das filosofias naturais (nome pelo qual eram conhecidas as ciências, como vimos na publicação anterior sobre a "segunda via") para designar propriedades físicas que não podiam ser observadas directamente, mas desvendadas através de experiências heurísticas. Os filósofos naturais de raiz aristotélica deram o nome de ocultas a determinadas especialidades escondidas da matéria que eles acreditavam ser as causas de efeitos observáveis. No desenrolar do século XVII, a palavra oculto começou a ser aplicada às - consideradas retrógradas - práticas alquímicas, astrológicas e teosóficas (não-blavatskianas). A magia - não só o fabrico de mezinhas e tisanas, mas também os métodos utilizados para comunicar com criaturas espirituais e até com Deus (o misticismo) - também adquiriu a cabal conotação de conhecimento ocultista. Em sequência, quando hoje se fala no "oculto" fala-se de um grupo heterogéneo de disciplinas e tradições: uma mistura sincrética de assuntos que somente têm em comum a grande distância que partilham em relação ao tronco do conhecimento aceite institucionalmente. Em suma: a noção de que o "oculto" e o "esotérico" são sinónimos e a de que ambas as palavras se referem a superstições e intrujices de carácter mais ou menos popular são erradas, como irá descortinar-se.

No Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes, a trajectória do oculto é contextualizada com rigor histórico; assim como são desmistificadas algumas das suas faces mais influentes. Nas suas páginas irá descobrir-se qual foi a importância das operações ditas ocultistas para o desenvolvimento das ciências e no que consistiram. Também se irá viajar, sem rede, até ao lado negro de estranhos rituais e suas consequências perigosas.

Imagem: O Menino Jesus abre um coração e varre para o exterior o mal que se aninhava lá dentro, personificado por um bando de animais repugnantes, como répteis e vermes (gravura datada dos primeiros anos do século XVII, realizada pelo artista holandês Anton Wierix e pertencente à sua série de emblemas cardiomórficos, reunidos sob o título Cor Iesu Amanti Sacrum [Amantes do Sagrado Coração de Jesus], exaltantes do Culto do Sagrado Coração de Jesus). Esta gravura foi inspirada num versículo do livro profético Isaías, retirado de uma passagem que consiste numa sátira contra o rei da Babilónia: «Reduzi-la-ei a um ninho de ouriços e a um pântano e varrê-la-ei com a vassoura da destruição - oráculo do Senhor dos Exércitos» (14:23).
A Companhia de Jesus, criada em 1534 pelo monge basco Iñigo de Loyola (Inácio de Loyola - o nome Iñigo é pré-romano; a sua forma latinizada é Enneco), e confirmada por bula papal em 1540, definiu-se como sendo uma das mais racionais ordens religiosas ocidentais, mas, apesar disso, é aquela que mais vezes é retratada nas diversas teorias de conspirações como operadora de actividades ocultistas.